Projetos entre empresas e centros de pesquisa focam na abordagem interdisciplinar e aplicação prática
A transformação digital das organizações deve gerar 800 mil novos postos de trabalho no Brasil até 2025, produzindo um déficit de 500 mil vagas, segundo estima a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). Esse cenário abre boas oportunidades para quem tem qualificação em internet das coisas (IoT). Várias instituições de ensino têm investido em projetos conjuntos com empresas, centros de pesquisa e parceiros internacionais, com foco na abordagem interdisciplinar e na aplicação prática.
O presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), Paulo Spaccaquerche, avalia que a formação técnica profissionalizante é fundamental para suprir a demanda por talentos na área, por ser mais rápida que a graduação. “Estamos com alguns cursos em nossa plataforma de ensino a distância que abordam os conhecimentos mínimos necessários para acompanhar o tema”, informa. Para ele, outra medida importante é a adoção de políticas que deem base sólida de matemática aos estudantes desde o ensino básico.
Aplicar soluções de IoT no ambiente urbano tem sido o caminho adotado pela Universidade de Campinas (Unicamp), que em 2016 criou o “Smart Campus”, vinculado à Prefeitura Universitária. “Atendemos uma população equivalente a uma cidade de 50 mil habitantes”, conta o líder técnico do projeto, Rafael Pereira de Sousa. “O objetivo é agregar inteligência aos serviços para auxiliar a comunidade interna e externa.” Um exemplo é o aplicativo que mostra, em tempo real, a posição dos ônibus dentro do campus e fornece informações aos gestores.
Outro projeto de pesquisa da universidade é o estacionamento inteligente, em que uma câmera analisa as imagens de veículos e envia informações a um totem sobre as vagas disponíveis. “A ideia é que a solução possa apoiar outras aplicações, como de segurança, por exemplo”, diz Juliana Borin, professora do Instituto de Computação. Em parceria com o Senai, a Bosch criou em Campinas a “Digital Talent Academy” (DTA), escola técnica que visa formar 500 talentos para negócios digitais até 2025. O programa gratuito com duração de dois anos envolve a aplicação do aprendizado em situações práticas. Todos os alunos recebem bolsas de estudo e têm aulas de inglês. “Nossa expectativa é que esses jovens talentosos fiquem na empresa”, diz o presidente da Robert Bosch América Latina, Gastón Diaz Perez.
Também na cidade paulista, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) criou em maio a “IoT Academy”, um laboratório voltado para projetos interdisciplinares. “Colocamos o tema de forma transversal em outros cursos além da área de TIC”, explica a diretora do Centro de Economia e Administração, Camila Brasil. Em 2023 a instituição irá oferecer um curso de graduação em agronomia junto com o Instituto Agronômico de Campinas, para levar a tecnologia ao agronegócio.
Pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) desenvolveram a Metodologia de Ensino Inovador (MEI-U), que usa uma plataforma digital (“testbed educacional”) para conduzir experimentos de cocriação em IoT. O projeto envolve parcerias no Brasil, Canadá, Dinamarca, França e Portugal. “Já desenvolvemos 200 casos com mais de mil alunos, 36% mulheres, voltados para resolver problemas reais das indústrias”, conta o professor Rui Yoshino. Os projetos contam com alunos autistas e de diferentes etnias. “Incentivamos a diversidade, para que cada um possa oferecer o que tem de melhor”, acrescenta sua colega, professora Joseane Pontes.
Em São Bernardo do Campo (SP), o Centro Universitário FEI mantém um laboratório para a formação de recursos humanos em IoT, com ênfase em agronegócio, cidades inteligentes e saúde. “Temos abordagem interdisciplinar e recebemos pesquisadores da universidade inteira”, diz seu coordenador, Guilherme Wachs. Os projetos incluem o protótipo de um relógio inteligente que prevê quedas de pacientes e uma lousa com realidade aumentada para treinamento a distância. Desde 2021, o laboratório está integrado ao centro de soluções 5G, criado em parceria com a Vivo e a Ericsson.
O Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), criado há dois anos em São Paulo, oferece formação em IoT em quatro cursos de graduação: engenharia de computação, engenharia de software, ciência da computação e sistemas de informação. “Nos projetos, as empresas apresentam problemas para os alunos solucionarem”, explica o professor Victor Hayashi. Um deles, em parceria com a Atech, do grupo Embraer, consiste na criação de protótipos para a localização de coisas em ambientes internos.