A transição tecnológica que envolve o desligamento das redes 2G e 3G no Brasil tem gerado intensos debates, especialmente no que diz respeito ao impacto sobre dispositivos de Internet das Coisas (IoT). Com milhões de equipamentos IoT ainda dependentes dessas redes legadas, o desafio não se limita à modernização tecnológica, mas também à gestão dessa migração de forma eficiente e sustentável.
As motivações para o desligamento das redes móveis 2G e 3G são todas plausíveis, e podem ser inclusive consideradas urgentes. A transição para tecnologias mais avançadas, é vista como um passo lógico para melhorar a eficiência espectral e oferecer melhores serviços aos usuários sejam empresas ou o cliente final.
Motivações para o Desligamento
- Eficiência Espectral: As redes 2G e 3G ocupam frequências valiosas que poderiam ser melhor aproveitadas por tecnologias mais modernas, como o 4G e o 5G, que oferecem maior capacidade de transmissão de dados e menor latência.
- Redução de Custos Operacionais: Manter redes legadas implica custos elevados para as operadoras, tanto em manutenção quanto em energia. O desligamento bem conduzido pode promover ganhos de eficiência e sustentabilidade que serão capturados por toda a sociedade.
- Inovação Tecnológica: A transição permite a implementação de soluções mais avançadas, como aplicações de Internet das Coisas (IoT), que demandam conectividade mais robusta e eficiente.
O Cenário Atual dos Dispositivos IoT
- Dependência de Redes Legadas: Um número significativo de dispositivos IoT no Brasil, como módulos instalados em veículos, máquinas industriais e equipamentos agrícolas, opera exclusivamente em redes 2G ou 3G. Muitos desses dispositivos estão em locais de difícil acesso ou integrados a sistemas que dificultam sua substituição ou atualização.
- Amplitude do Impacto: Estima-se que milhões de dispositivos IoT estejam conectados às redes legadas. Diferentemente de outros países, onde o desligamento ocorreu sem grandes impactos devido à baixa adoção de IoT nessas redes, o Brasil enfrenta uma realidade mais complexa.
- Equipamentos Não Acessíveis Externamente: Alguns módulos IoT estão embutidos em componentes internos de máquinas ou veículos, como blocos de motor. A remoção ou substituição desses dispositivos pode ser tecnicamente inviável ou economicamente proibitiva.
Diante desse contexto desafiador é importante que a sociedade entenda os desafios e oportunidades apresentados pelo tamanho do mercado de IoT, as dimensões geográficas e as diversas aplicações que utilizam dessas redes.
Desafios da Migração
- Custo da Substituição: A troca de dispositivos IoT 2G ou 3G para modelos compatíveis com redes mais modernas pode representar um custo elevado. Esse ônus financeiro é um ponto central da discussão, especialmente em setores onde margens de lucro são estreitas.
- Coordenação entre Setores: A falta de uma estratégia coordenada entre operadoras, órgãos reguladores e fabricantes dificulta a transição. A Anatel, por exemplo, regula frequências e não tecnologias específicas, o que complica a implementação de políticas claras para mitigar o impacto dos usuários quando do desligamento das redes legadas.
- Impacto nos Serviços Críticos: Muitos dispositivos IoT são utilizados em aplicações críticas, como monitoramento remoto em áreas rurais ou controle de frota. A interrupção desses serviços pode gerar prejuízos operacionais significativos.
Soluções Propostas
A ABINC entende que é necessário uma coordenação mais ampla e um suporte consultivo para conduzir o processo de transição tecnológica de forma a mitigar os impactos da transição tecnológica.
Essa coordenação poderia passar pelos seguintes pontos:
- Planejamento Gradual e Regionalizado: Um cronograma escalonado para o desligamento das redes pode ajudar a mitigar os impactos. Áreas com maior concentração de dispositivos IoT dependentes das redes legadas poderiam ter prazos mais longos para adaptação.
- Programas de Incentivo à Substituição: Parcerias entre governo e setor privado podem viabilizar subsídios ou financiamentos para a troca de dispositivos antigos por modelos compatíveis com as novas tecnologias.
- Criação de Redes Alternativas (Fallback): Manter uma rede mínima para suportar dispositivos IoT críticos durante o período de transição seria uma solução intermediária para evitar interrupções abruptas nos serviços.
- Engajamento Setorial: Associações como a ABINC têm papel fundamental na articulação entre os diferentes atores do setor, promovendo discussões técnicas e propondo soluções práticas para a migração dos dispositivos IoT.
Conclusão
O desligamento das redes 2G e 3G no Brasil representa um avanço tecnológico necessário, mas traz desafios significativos para a gestão dos dispositivos IoT conectados a essas infraestruturas. Uma abordagem planejada e colaborativa será essencial para minimizar os impactos econômicos e operacionais dessa transição, garantindo que o país avance rumo à modernização sem comprometer serviços essenciais nem sobrecarregar usuários finais.
A ABINC pode ajudar a coordenar as ações e garantir um processo de inovação tecnológica suave sem impacto para seus associados e para a sociedade. Está na hora de darmos a devida atenção a essa discussão para que a sociedade brasileira possa usufruir dos benefícios da transição tecnológica e da liberação de espectro para outras aplicações sem, contudo, trazer um impacto significativo para toda a indústria de IoT que utilizou de forma consistente essas tecnologias nos últimos 25 anos.
Fonte: Comitê de Conectividade.